Amores e humores

"Mudam as caras, mudam as roupas, mudam os pedidos, mas é sempre a mesma coisa. Um bando de gente triste tentando esquecer suas vidas medíocres." – filosofou Montanha.
Deixou a cadeira encostada na mesa do grupo de gringos bêbados que cantava um samba ruim qualquer, na calçada do bar, e entrou no bar gritando pro Seu Armando o pedido da mesa "do poste":
— Uma Antártica, dois copo e um Pernil no Reino. – cravou.
A sinergia entre eles era digna de estudo. Não existe registro na história de que algum deles já tenha sorrido pro outro alguma vez na vida, mas nunca trocaram uma grosseria sequer. Era seco, mas funcionava.
Montanha tinha mais ou menos a metade da idade do Seu Armando (e a metade do tamanho também). Era um moço forte, mais para gordo, com traços bem marcados e humor instável.
Era do tipo que, se não te tratasse mal, já estaria entregando o seu melhor.
Seu Armando, por sua vez, era um senhor português que, do alto de seus 75 anos, já não tinha paciência pra muita coisa. Atendia seus clientes como quem faz um favor sem muita vontade. E isso, além do bolinho de bacalhau e o lanche de pernil com queijo reino, era marca registrada do tradicional boteco da cidade.
Um toque na sineta do balcão era o aviso de que o pedido estava pronto e lá vai o Montanha, com seus passos cansados, levar o pedido pra mesa do poste.