O Ponto
Aventura
12+ anos
A vírgula que virou interrogação
por Fernando Madruga
A vírgula era uma pausa elegante, um breve suspiro entre ideias. Mas a humanidade, impaciente, transformou-a numa interrogação. De repente, ninguém mais afirmava nada — todos perguntavam tudo. E o curioso é que as perguntas se multiplicaram na mesma velocidade em que as respostas perderam o valor.
“Será que a Terra é plana?”, “Será que a vacina funciona?”, “Será que sou um holograma?” — a dúvida virou moda. O questionamento, antes motor da filosofia, foi adotado por gente que nunca filosofou nem sobre o próprio espelho.
A internet, esse oráculo moderno, oferecia respostas instantâneas, mas cada resposta vinha acompanhada de cinquenta teorias opostas e trezentos comentários agressivos. O mundo se transformou num grande debate de bar, só que sem cerveja e com acesso ilimitado a Wi-Fi.
A ciência tentava falar, mas era interrompida por um influenciador de boné virado pra trás explicando física quântica com um gráfico feito no Paint. O conhecimento, outrora um templo, virou um mercadinho onde cada um escolhia a verdade que mais combinava com seu estilo de vida.
E assim, a vírgula — que deveria unir ideias — se converteu num gancho de dúvida permanente. Tudo virou questionável: a história, a ética, a gramática, o conceito de banho. A ignorância ganhou status de opinião, e a opinião passou a valer mais do que o fato.
O mundo parecia uma escola onde todos falavam e ninguém escutava. Só que, no recreio, ainda havia quem acreditasse que o som do silêncio era censura.
No meio desse ruído, o velho ponto, agora aposentado, observava com melancolia. Ele, que iniciou tudo com uma simples explosão, agora via sua criação desintegrar-se em interrogações mal formuladas. “Talvez eu tenha errado na pontuação”, pensou. Mas tarde demais — o texto da humanidade já estava publicado, sem revisão.
“Será que a Terra é plana?”, “Será que a vacina funciona?”, “Será que sou um holograma?” — a dúvida virou moda. O questionamento, antes motor da filosofia, foi adotado por gente que nunca filosofou nem sobre o próprio espelho.
A internet, esse oráculo moderno, oferecia respostas instantâneas, mas cada resposta vinha acompanhada de cinquenta teorias opostas e trezentos comentários agressivos. O mundo se transformou num grande debate de bar, só que sem cerveja e com acesso ilimitado a Wi-Fi.
A ciência tentava falar, mas era interrompida por um influenciador de boné virado pra trás explicando física quântica com um gráfico feito no Paint. O conhecimento, outrora um templo, virou um mercadinho onde cada um escolhia a verdade que mais combinava com seu estilo de vida.
E assim, a vírgula — que deveria unir ideias — se converteu num gancho de dúvida permanente. Tudo virou questionável: a história, a ética, a gramática, o conceito de banho. A ignorância ganhou status de opinião, e a opinião passou a valer mais do que o fato.
O mundo parecia uma escola onde todos falavam e ninguém escutava. Só que, no recreio, ainda havia quem acreditasse que o som do silêncio era censura.
No meio desse ruído, o velho ponto, agora aposentado, observava com melancolia. Ele, que iniciou tudo com uma simples explosão, agora via sua criação desintegrar-se em interrogações mal formuladas. “Talvez eu tenha errado na pontuação”, pensou. Mas tarde demais — o texto da humanidade já estava publicado, sem revisão.
