Claudio faleceu
Romance 16+ anos

O sal na pele

por Moebius Vectra
Carlos nunca acreditou em romances passageiros, mas bastou um olhar no quiosque da praia para perceber que algumas histórias nascem condenadas às marés. Ela se chamava Lia, e seu sorriso parecia brincar com o sol, como se soubesse o segredo de prender a atenção de um homem que não se deixava prender.
Nos dias seguintes, encontraram-se sem combinar: no calçadão, no sorveteiro, no mesmo trecho de areia. Ele dizia ser coincidência, ela ria e dizia que o destino era folgado demais para deixar tudo por conta do acaso. Carlos, engenheiro metódico, começou a sentir o tempo perder a forma; entre mergulhos e conversas sobre nada, os ponteiros viraram ondas.
O último dia chegou com cheiro de despedida. O vento do fim de tarde trazia aquela melancolia que só o verão sabe soprar. Lia segurou sua mão e, sem pedir promessa, pediu memória. “Deixa que a vida decida se a gente se encontra de novo”, disse ela, com a serenidade de quem entende que nem todo amor precisa durar para ser verdadeiro.
Carlos voltou à serra com a areia ainda nos sapatos. Nos meses que seguiram, cada chuva o fazia lembrar o som do mar, e cada perfume doce na rua trazia um lampejo do sorriso dela. Nunca mais se viram, mas em algum canto de si ele sabia: certos amores não acabam, apenas mudam de estado. Evaporam, como o sal na pele, e ficam suspensos no ar — invisíveis, mas eternos.
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